Tonico (João Salvador Perez)
Cantores. Dupla sertaneja. Formada pelos irmãos João Salvador Perez, Tonico – São Manuel, SP-2 /3 /1917- São Paulo, SP – 13/8/1994 José Perez, Tinoco – Botucatu, SP – 19 /11 /1920. O pai, o imigrante espanhol Salvador Perez, chegado ao Brasil em 1892, com cinco anos de idade, instalou-se na região de Botucatu. Dedicou-se ao trabalho agrícola, ao desbravamento do sertão e criação de novas fazendas. Entre muitas fazendas trabalhou numa propriedade da família de Ademar de Barros. Lá se casou com a filha de outro peão que era sanfoneiro. Os irmãos João e José cresceram sob a influência musical dos avós maternos que tocavam em bailes de aniversário e casamento. O avô Olegário era o mais famoso e solicitado tocador de sanfona de oito baixos da região. Na família da mãe todos eram músicos. Havia também o tio materno, José, renomado sanfoneiro com quem João (Tonico) conviveu até sete anos. Ainda meninos na fazenda Vargem Grande começaram a cantar com o violeiro Virgílio de Souza, que lhes apresentou a primeira viola. A família mudava-se constantemente de fazenda em fazenda. Na fazenda Tavares, em Botucatu conheceram o violeiro Bonifácio Bonetti, que os ensinou os primeiros acordes de violão. Lá começam a animar as primeiras festinhas cantando serenatas. Em 1937 mudam-se para Sorocaba onde continuam apresentando-se em festas de bairro, ao mesmo tempo em que José trabalhava como engraxate e João na pedreira Santa Helena. Deixando Sorocaba, rumam para a Fazenda Brejão, em São Manuel, onde formam o conjunto “Os caboclos do Brejão”, juntamente com Sílvio Vacaro, Tião, Chiquinho e João Nicolete. Tocavam em festas e bailes das redondezas. Cantam pela primeira vez na Rádio Clube de São Manuel, convidados pelo administrador da fazenda, interpretando a música “Namoro de velhos”. Passam a se apresentar de graça na emissora aos domingos. Em janeiro de 1941, mudaram-se para São Paulo. Ganharam o primeiro lugar no programa de calouros “Peneira Rodhine”, da Rádio Cultura. Em seguida, conquistaram o segundo lugar no programa de calouros da Rádio Record, comandado por Otávio Gabus Mendes. Ganharam um concurso de calouros no programa “Manhãs na roça”, de Chico Carretel na Rádio Emissora de Piratininga. Em 1942, o Capitão Furtado abriu um concurso para substituir a dupla Palmeira e Piraci, no programa “Arraial da curva torta”. A referida dupla havia sido contratada pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Os irmãos José e João se inscreveram juntamente com o primo Miguel. Foram apresentados como o “Trio da roça” e interpretaram o cateretê “Tudo tem no sertão”, classificando-se para a final. Já sem o primo, participaram da finalíssima a 15 de novembro de 1942, com o nome de irmãos Perez. Venceram o concurso cantando a moda de viola “Adeus, campina da serra”, de Cornélio Pires e Raul Torres. O auditório aplaudiu de pé, pedindo bis, pois a dupla cantava de modo diferente em afinação, fino e bem alto. Nesse período receberam do Capitão Furtado os nomes de Tonico e Tinoco. Foram contratados pela Rádio Tupi, que acabara de comprar a Rádio Difusora, para se apresentarem nos programas “Arraial da Curva Torta” e “Saudade”. Após um contrato experimental de três meses, foram contratados por um conto e duzentos mil-réis por dois anos. Em 1944, gravaram seu primeiro disco em 78 rpm pela gravadora Continental. A música escolhida foi o cateretê “Inveis de me agradecê” de autoria de Capitão Furtado, Jayme Martins e Aimoré. No programa “Arraial da curva torta”, ganharam do apresentador Dácio Ferreira o epíteto de “Dupla coração do Brasil”. Gravaram outros discos e, em decorrência do sucesso de seu trabalho, abrem um escritório, numa iniciativa pioneira entre artistas sertanejos. Passaram a ter programas nas Rádios Nacional e Bandeirantes. Faziam shows diários e apresentavam-se em diversos circos. Escreveram 25 peças teatrais, entre elas duas comédias que apresentavam em circos, ginásios e teatros. Nesse período, renovaram contrato com a gravadora Continental. Em 1950, participaram da inauguração da TV Tupi, canal 3, primeira emissora de televisão no Brasil, cantando “Pé do ipê”. Como contratados das Associadas participaram todos os domingos do programa “Festa na Roça”. Nos anos 50, criaram o programa “Beira da Tuia”, na Rádio Nacional. Em 1957, lançaram, pela Continental, o primeiro LP de música sertaneja do país: “Tonico e Tinoco com suas modas sertanejas”. Em 1959, publicaram o primeiro método prático de viola. Uma biografia da dupla é editada na revista em quadrinhos “Tonico e Tinoco”, em 1960. Em 1964, Tonico esteve adoentado. Seu irmão mais novo Francisco Perez, o Chiquinho, o substituiu nos shows. Em 1965, atuaram e fizeram a trilha sonora do filme “Obrigado a matar”, inspirado em um dos sucessos da dupla, “Chico Mineiro”. Em meados dos anos 1960, já na gravadora Chantecler, ficaram dois anos sem gravar, por não aceitarem introduzir guitarras elétricas em seu estilo sertanejo. Durante esse intervalo, a gravadora Continental lançou dois LPs, coletânea com suas músicas gravadas anteriormente em 78 rpm para atender a solicitações comerciais. Retornaram às gravações com o LP “26 anos de glórias” novamente pela gravadora Continental. Em 1969, participaram do encontro de guitarristas Gitanos comandado pelo tropicalista maestro Rogério Duprat. Em 1974, são homenageados por Mário Mauro Ramos Matoso, o Mamarama parceiro de composições com o poema “33 anos” que conta a vida artística da dupla. Em julho de 1979 marcaram sua carreira com um show no Teatro Municipal de São Paulo, cuja lotação esgotou e mais de 1.000 pessoas ficaram do lado de fora. Foi a primeira vez que uma dupla sertaneja ocupou um teatro até então voltado para a cultura erudita. Lançaram, em seguida, pela Chantecler, o LP “A viola no teatro”. No início dos anos 1980, o show da dupla “Noite da viola” lotou o Maracanãzinho no Rio de Janeiro com mais de 20.000 pessoas. No mesmo período foram convidados para fazer um show e uma palestra sobre música sertaneja aos estudantes da Universidade de São Paulo.Em 1982, gravaram, pela Chantecler, o LP “40 anos”. Ao longo da carreira da dupla, Tonico escreveu o livro: “Vila do Riacho: 22 contos sertanejos”. Juntos escreveram “Da Beira da Tuia ao Teatro Municipal”. Fizeram 25 peças teatrais. Em 1993, Tinoco lançou com Zé Paulo um LP independente, com as músicas “Porta-jóia do Amor”, de José Fortuna e Paraíso, “Chico Mineiro”, de Tonico e Francisco Ribeiro, “Baile na Roça”, de Tinoco e Nadir, “Fio de Cabelo”, de Darci Rossi e Marciano, “Menina Moça”, de Lourival dos Santos e Jacózinho, “Rio Pequeno”, de Tonico e João Merlini, “Casa de Pedra”, de Moniz e Xavantinho, “Sanfona Xonada”, de José Felipe e Paulo Gaúcho, “Mãe do Céu Morena”, de Padre Zezinho, “Carreta Campesina”, versão de Palmeira para “La Carreta Campesina”, de Diosnel Chase e Maurício Cardozo Ocampo, “Recordação”, de Tonico e Tinoco, e “Rancho Vazio”, de Anacleto Rosas Júnior e Arlindo Pinto. Em 1994, a dupla foi homenageada com o prêmio “Canário de Ouro”. Fizeram seis filmes de temas regionais sertanejos, com diferentes diretores: “Lá no meu sertão”, produção da própria dupla, “Obrigado a matar”, “Luar do sertão”, uma co-produção, “Marca da ferradura”, co-produção, “Os três justiceiros”, co-produção, e “Menino jornaleiro”, co-produção. Gravaram em torno de 75 LPs e 211 discos 78 rpm, num total aproximado de 1.200 músicas, tendo vendido mais de 20 milhões de discos. Durante a carreira a dupla realizou mais de 40 mil shows em todo o Brasil em circos, teatros, ginásios, exposições agropecuárias, além das programações em rádio e televisão. Entre seus sucessos estão “Moreninha linda”, de Tonico, Priminho e Maninho, “Chico mineiro”, de Tonico e Francisco Ribeiro, “Adeus campina da serra”, de Raul Torres e Cornélio Pires, “Destinos iguais” de Laureano e Ariovaldo Pires e”Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira. Muitos de seus discos foram posteriormente relançados em CD, entre os quais, “Rancho vazio”, no qual interpretaram obras do compositor Anacleto Rosas Jr., entre As quais, “Rancho vazio”, “Cavalo preto” e “Burro picaço”. Após a morte de Tonico, em 13 de agosto de 1994, em São Paulo, Tinoco permanceu em atividade, seguindo carreira solo, eventualmente acompanhado de seu filho, Tinoquinho. Em 1997, a dupla foi contemplada com um volume da Coleção Luar do Sertão, da BMG, que registrou o repertório mais representativo de sua carreira. Em 1998, Tinoco realizou participação no CD “Fera”, de Gilberto Barros, lançado de forma independente, cantando a música “Brasil Caboclo”, de Tonico e Walter Amaral. Em 2000, foi lançado, o volume “Tonico e Tinoco”, da série “Música Brasileira deste século por seus autores e intérpretes”, editada pelo pelo Sesc de São Paulo. O disco reuniu os sucessos da dupla, como “Chico mineiro”, deTonico e Francisco Ribeiro; “Burro saudoso”, de Tinoco; “Cana verde”, de Tonico e Tinoco; “Aparecida do Norte”, deTonico – Anacleto Rosas Jr.; “Tristeza do jeca”, de Angelino de Oliveira, “Brasil caboclo”, deTonico e Walter Amaral e “Moreninha linda”, deTonico, Maninho e Priminho, entre outros. Em 2000, Tinoco realizou participação especial no CD “Meu reino encantado”, de Daniel, lançado pela Warner Music, cantando o grande sucesso “Moreninha Linda”, de Tonico, Priminho e Maninho. No mesmo ano, participou do disco “Deus abençoe as crianças”, cantando a música que dá nome ao disco, composição de Marinho Marcos e Eunice Barbosa, ao lado de artistas como Fábio Júnior, Sérgio Reis, Wanderléa, Vanusa, Elba Ramalho, Agnaldo Rayol, Jair Rodrigues, Ronnie Von Dominguinhos. Em 2004, o selo Revivendo lançou CD com as primeiras gravações da dupla, sob o título “Tonico e Tinoco -nossas primeiras gravações”. O disco traz músicas do primeiro período da dupla como “Em vez de me agradecer”, de Capitão Furtado, Jaime Martins e Aimoré; “Tudo tem no sertão”, de Tonico; “Sertão do Laranjinha, de Tonico e Tinoco, com arranjos de Capitão Furtado; “Moreninha”, de Tonico; “Cortando estradão”, de Anacleto Rosas Júnior; “Chico Mineiro” de Tonico e Francisco Ribeiro, “Adeus morena, adeus” de Piraci, entre outros. Em setembro do mesmo ano, Tinoco foi convidado especial de Inezita Barrozo, no programa “Viola, minha viola”, que a cantora comanda na TV cultura de São Paulo. Cantando sozinho, Tinoco apresentou “Moreninha linda” e com Inezita, cantou “Pro lado que o vento vai”. Em 2010, Tinoco, na ocasião o cantor sertanejo mais velho em atividade no país, participou do programa “Emoções Sertanejas”, da TV Globo. Apesar do evento ter tido como objetivo homenagear o cantor e compositor Roberto Carlos, Tinoco também recebeu uma homenagem: a placa com a marca “Emoções sertanejas”, das mãos do Rei. O programa recebeu como convidados, em um mega-show, no ginásio do Ibirapuera em São Paulo, grandes nomes da música sertaneja como Almir Sater, Bruno & Marrone, César Menotti & Fabiano, Chitãozinho & Xororó, Dominguinhos, Elba Ramalho, Gian & Giovani, Leonardo, Martinha, Milionário & José Rico, Paula Fernandes, Rio Negro & Solimões, Nalva Aguiar, Sérgio Reis, Victor & Léo e Zezé di Camargo & Luciano. Esse show, que contou com a direção geral de Cicão Chies, foi, posteriormente, lançado em CD duplo e DVD pela Sony Music.